Esta análise estuda a possível influência destes factores principais, entre outros, sobre o movimento das cotações, procurando obter um diagnóstico quanto ao desenvolvimento das forças fundamentais que conduzem os mercados de divisas.
Mais concretamente, debruça-se sobre a conjuntura de cada país e da sua zona económica, e, a seguir, identifica e mede os factores que possam influenciar a alteração da cotação das divisas, como por exemplo: o crescimento económico e as suas componentes principais (PIB, consumo privado, consumo público, investimento, importações e exportações), a qualidade da administração e das políticas do Governo, os seus planos futuros e os mais importantes no curto prazo e os indicadores macroeconómicos.
Ou seja, a AF estuda as variáveis económicas que interferem na oferta e na procura do mercado e que podem influenciar o movimento da cotação das divisas. Desta forma, a AF vai complementar a AT.
“No mercado cambial, um investidor fundamental irá interpretar as variáveis económicas que possam influenciar a taxa de câmbio das divisas escolhidas, de acordo com a “lei” da teoria económica.”
O autor Matos (2008, p. 197) refere que a AF pretende determinar o que comprar e o que vender, sem definir o momento em que se deve transaccionar como acontecia no âmbito da AT.
A realização da AF implica que o investidor adopte uma perspectiva com os “olhos no futuro” procurando informação em diferentes níveis: global, regional e local, ou seja, relativamente à economia global, à economia das zonas económicas relevantes e à economia dos países específicos das divisas a transaccionar.
Em síntese, a abordagem deve partir do global para o particular e deve considerar as projecções realizadas para o futuro,nomeadamente as fases de expansão/recessão, a evolução das taxas de juro, da inflação e da oferta de moeda, que exercem influências significativas sobre a cotação das divisas.
A cotação forma-se pelo fluxo de informação que atinge o mercado, incorporando todos os dados, expectativas, estados de espírito e percepções dos investidores. Deste modo, a cotação reflecte os factos passados, os factos sobre o futuro previsível e, ainda, a informação privilegiada.
Quando se analisa um par cambial também importa considerar a política monetária dos países ou das zonas económicas respeitantes a esse par, porquanto as autoridades monetárias dispõem de diversos instrumentos para implementar as suas políticas baseadas nos seguintes objectivos, segundo Abreu et al.:
• elevado nível de emprego;
• crescimento económico sustentado;
• estabilidade de preços;
• estabilidade das taxas de juro;
• estabilidade dos mercados financeiros;
• estabilidade do mercado cambial.
A este propósito, refira-se, a título de exemplo, que a política monetária exercida pelo Banco Central Europeu (BCE) tem como propósito o controlo da inflação na Zona Euro por meio da alteração das taxas de juro directoras, com reflexos imediatos nas cotações dos pares cambiais. Em termos gerais, se o Índice de Preços no Consumidor Harmonizado (IPCH) subir, o BCE actua através do aumento da taxa de juro directora, enquanto que se o índice descer, o BCE diminui a taxa de juro directora.
Tendo em consideração o Mercado Forex e o âmbito da AF em termos gerais, salientam-se, em seguida, algumas variáveis de referência cuja análise merece especial atenção:
No caso inverso diz-se que se verifica um défice comercial. O nível das exportações e da sua tendência reflectem a competitividade do país ou da zona económica em causa, bem como a força da sua actividade económica além fronteiras.
As importações, por seu lado, espelham a força da actividade económica dentro de fronteiras. Os valores demonstrados pela BC são seguidos com atenção pelos mercados cambiais, nomeadamente, quando existe um défice significativo, ou seja, quando ocorrem compras significativa de produtos estrangeiros pagos numa divisa estrangeira, a moeda do país em causa tende a depreciar-se devido a uma venda comercial contínua da respectiva moeda. O equilíbrio apenas ocorrerá no caso da entrada de moeda estrangeira, por exemplo, através de investimentos.
Traduz uma medição mais completa dos dados comerciais internacionais, sendo a parte mais importante deles. É feita uma abordagem mais extensa do fluxo de compra e de venda de mercadorias, serviços, pagamento de juros e transferências unilaterais, reflectindo a forma como determinado país interage com o resto do mundo, num domínio não financeiro. Nesta balança está incluída a BC. Uma balança corrente deficitária pode reflectir-se no enfraquecimento da respectiva moeda.
Calcula-se através da medição do nível médio de preços de um conjunto fixo de mercadorias e serviços adquiridos pelos consumidores, sendo um importante indicador da inflação do país.As despesas dos consumidores são importantes, uma vez que representam dois terços da actividade económica.
Quando o IPC é alto significa que localmente custa mais adquirir aquele mesmo cabaz de bens e serviços; sendo crescente, geralmente motiva taxas de juro mais elevadas a curto prazo que também se reflectem na moeda. Porém, se esta situação inflacionista persistir o nível de confiança na moeda poderá diminuir, enfraquecendo-a.
Trata-se de um índice que mostra as tendências do sector da produção. Os bens duráveis geralmente possuem uma vida superior a três anos (por exemplo o caso do sector automóvel) e, frequentemente, requerem investimentos elevados.
Assim, as encomendas crescentes de bens duradouros estão associadas a uma actividade económica forte, transmitindo confiança aos consumidores. Consequentemente, o índice em questão pode conduzir a taxas de juro a curto prazo mais elevadas, reflectindo-se numa vantagem para a moeda, pelo menos no curto prazo.
Representa um indicador da actividade económica global, através do qual se mede o valor de mercado de todas as mercadorias e serviços produzidos num determinado país.
É a medição disponível mais extensa da actividade económica global e, por isso, o principal indicador da força da actividade económica. O PIB nacional é comunicado trimestralmente por via de um relatório com três edições: edição antecipada, edição preliminar e edição final. O impacto destas edições no mercado é substancial e, no mercado cambial, um PIB elevado cria, normalmente, expectativas de taxas de juro mais elevadas.
Esta situação é positiva para a moeda, desde que não se gerem expectativas de uma inflação mais alta, facto que comprometeria a confiança na moeda.
Proporciona uma indicação da inflação, na medida em que mede a variação mensal de preços por grosso das matérias primas, das indústrias e na fase de produção.
Os elementos que constituem a base de cálculo deste índice variam de país para país, e muitas vezes de ano para ano no mesmo país. A inflação ao nível do produtor, geralmente, influencia o preço que o consumidor vai pagar e determina, normalmente, taxas de juro mais elevadas no curto prazo, influenciando a moeda. Contudo, uma pressão inflacionária significativa pode afectar os níveis de confiança na moeda em questão.
A relevância deste indicador mensal resulta da elevada actividade de construção estar, geralmente, associada a elevada actividade económica e a altos níveis de confiança. Esta situação pode traduzir-se em taxas de juro mais elevadas a curto prazo, reflectindo-se positivamente na moeda.
Ttrata-se de um indicador muito importante que mede o número de pessoas remuneradas como funcionárias de unidades empresariais não ligadas à agricultura ou a unidades governamentais. Na medida em que engloba todos os principais sectores da economia fornece uma visão muito abrangente.
As alterações mensais calculadas pelo indicador mostram as variações líquidas do número de empregos criados ou perdidos. Quando ocorre um aumento significativo na criação de emprego transmite-se ao mercado um sinal de uma actividade económica forte que, por sua vez, poderá reflectir-se num aumento das taxas de juro e, assim, num apoio à moeda, pelo menos a curto prazo.
Refere-se à percentagem de pessoas correntemente sem emprego, mas que o procuram activamente e que desejam trabalhar. Este é, geralmente, um bom indicador da produção da economia, do consumo privado, do nível de confiança dos consumidores e do nível salarial.
Uma taxa de desemprego elevada, normalmente, justifica conclusões imediatas sobre o estado da economia: menos consumo e estagnação económica.
Os valores destes indicadores podem ser obtidos a partir de diversas agências de informação financeira, como a Bloomberg e a Reuters que os divulgam em tempo real, proporcionando ao investidor fontes de informação específica que utiliza para sustentar a decisão de entrar ou sair do mercado. Esta e outras informações podem ser acedidas na própria plataforma de negociação.
Para os investidores efectuarem uma avaliação correcta da informação financeira devem conhecer que grupos de notícias existem no mercado e qual o impacto que poderão provocar nos movimentos das cotações das divisas: a informação pode ser de alta, média ou baixa importância.
“A notícia é um elemento que afecta substancialmente todos os mercados concorrenciais, transportando informação técnica e fundamental sobre as mercadorias e activos financeiros. Esta informação tem a capacidade de alterar expectativas pela forma como é escrita e pela omissão ou inclusão de dados relevantes.”
Em termos gerais, o investidor deve atender às informações e às notícias de modo a conhecer o estado da economia e a captar as ideias dos principais analistas do mercado, com vista a identificar as perspectivas de evolução futura. Os mercados tendem reagir à informação mesmo antes de ela se verificar, isto é, o mercado desconta factos que irão ser divulgados posteriormente, reflectindo-os no valor da cotação. Por vezes o mercado desconta os factos de uma forma excessiva, podendo o movimento da cotação ser contrário no momento em que os dados são publicados.
Neste caso, deve-se ter em atenção a Teoria da Opinião Contrária, que se “baseia no princípio de que, quando existe consenso no mercado acerca da direcção dos preços, estes tendem a inverter esse mesmo sentido. Este consenso é determinado a partir do impacte da publicação de novidades no comportamento humano e da influência das notícias e relatórios nas expectativas dos investidores.” (Peixoto (2000, p. 32)).
A informação pode ser agrupada em duas categorias fundamentais, atendendo à dimensão temporal:
• informação padronizada (standard);
• informação não padronizada (extraordinária).
A informação padronizada diz respeito a notícias de carácter micro e macro-económico que estão devidamente definidas na escala temporal, pelo que se conhece o momento da sua divulgação e as estimativas dos indicadores publicados.
Estas estimativas são compostas por um grupo de especialistas, analistas do mercado, organismos nacionais e internacionais. No caso da estimativa diferir do valor real do indicador não é possível determinar com segurança a força da reacção do mercado.
De acordo com o ForexClub Academy é essencial que o investidor possua conhecimentos base a respeito da cotação da divisa para que possa entender quais os prováveis efeitos que vão decorrer.
Assim, existem alguns factores a considerar:
• componente real (calculada tendo por base o poder de aquisição): uma forma simplista para ter noção do valor real de uma determinada moeda é a utilização do “Índice Big Mac” (comparação do preço de um Big Mac nos diferentes países para obter a cotação da moeda);
• cotação “favorável“ da moeda nacional;
• depósitos dos bancos nacionais e dos market makers12 que trabalham nos mercados em que existe uma relação entre compradores e vendedores e cujo o pagamento do negócio ocorre quando os bancos efectuam a troca das divisas compradas/vendidas.
- Índice de Big Mac:
A informação não padronizada corresponde a factos que não estão previstos, pelo que o momento de ocorrência e o grau da sua influência não podem ser prognosticados dado o seu carácter imprevisível e de força maior.
Como exemplo de factos/acontecimentos que originam este tipo de informação salientam-se as catástrofes naturais, os actos terroristas, as guerras, a instabilidade política, as declarações do presidente do Banco Central ou de um ministro da economia, etc.
Em síntese, a AF tem como objectivo principal determinar qual a moeda que se deve comprar ou vender, percebendo o motivo pelo qual a cotação se movimenta, nos sentidos ascendente e descendente, em função da divulgação de indicadores económicos e de outras informações relevantes – no caso concreto do presente trabalho, no Mercado Forex.
Conforme se expõe, a AF consiste num método que possibilita a estimativa da evolução da cotação das divisas, através da análise da envolvente sócio-económica e política dos países ou das zonas económicas. Procura saber quais as causas e os efeitos da evolução de um determinado indicador e quais os seus impactos sobre o mercado.
O conhecimento da política monetária dos países ou das zonas económicas do par cambial em análise também assume especial relevância, porquanto permite distinguir as variáveis e as intervenções das autoridades monetárias com maior impacto na cotação.
Para ilustrar melhor este tipo de análise, tomando como exemplo o par cambial euro/dólar (EUR/USD) num dado momento, convém salientar que o investidor deve atender à informação disponibilizada de acordo com o calendário de acontecimentos económicos e financeiros (este calendário contempla informação relativa à situação passada e à situação previsional futura).
Esta informação refere-se a dados que podem causar alterações económicas, como por exemplo a divulgação da alteração da taxa de juro directora da Zona Euro ou de elementos sobre o emprego nos EUA. Posteriormente, será divulgado o valor actual do indicador em questão no horário estabelecido.
- Calendário económico:
Esta análise tem como objectivo determinar qual será o sentido da evolução da cotação para decidir se deve entrar no mercado comprando ou vendendo. O momento de entrada no mercado pode ser dado pela divulgação dos valores reais dos indicadores económico-financeiros, ou de outros acontecimentos que provoquem oscilações na cotação.
Se o valor real do indicador em análise se distanciar significativamente do que havia sido previsto, o investidor deve ter em atenção a possibilidade de se verificar uma reacção na oscilação da cotação (podendo ocorrer uma correcção da cotação). Nesta situação o mercado vai fazer o desconto da informação conhecida na cotação do respectivo par cambial alvo.
Retomando o exemplo da figura acima, previa-se que nos EUA em Novembro de 2009 o Change in Non-Farm Payrolls fosse de (-125k), estimando-se um aumento de (-14k) em relação ao mês precedente do mesmo ano. Contudo, através da publicação do valor do indicador no dia 4 de Dezembro de 2009, às 13h30 GMT, verificou-se que a variação seria de apenas (-11k).
Esta diferença entre o valor real e o valor estimado do indicador provocou uma forte oscilação no par cambial EUR/USD, manifestada por uma valorização do dólar. Nesse momento, o investidor deve entrar no mercado com uma posição compradora de dólares (o momento de entrada no mercado está assinalado no gráfico abaixo com uma seta vermelha).
Sendo a notícia de importância relevante, a discrepância entre o valor real e o valor estimado deverá exercer um impacto significativo na cotação do par cambial em questão.
- Gráfico do par cambial EUR/USD: